domingo, 5 de junho de 2011

Catedral: um templo gótico em meio à Terra da Luz


As paredes desgastadas pela chuva de muitos anos engana; nada há de sombrio no interior da Catedral Metropolitana de Fortaleza, erigida sobre o que foi, outrora, a Igreja da Sé. Em estilo gótico, de dimensões extensas e rosáceas primorosas, o templo católico, localizado próximo ao Centro Cultural Dragão do Mar e o Mercado Central, é mais novo do que sua aparência demonstra, tendo sido terminado em 1978 após uma obra de 40 anos. Com destaque para São José, a igreja é a terceira maior do país, tendo sido projetada pelo francês George Maunier. 

Talvez a beleza mais pura da Catedral, ao menos para os olhos da presente observadora, esteja no seu exterior, na decadência sombria de suas marcas, manchas e rachaduras discretas. Tem-se o tipo de emoção quase que cinematográfica ao cruzar os grandiosos portais acinzentados em arco, ao caminhar pelos degraus degradados e ao sentir-se vivente de um passado que, na verdade, não é tão antigo assim. Pombos aglomeram-se nas pequenas reentrâncias dos vitrais menores, como que escondendo-se do sol exaustivo da cidade, camuflando-se nas sombras. Alguns metros ao lado, uma placa anuncia estacionamento pago dentro dos limites sagrados. Poucos carros se encaixam em vagas estreitas, dos quais a maioria dos passageiros sai empunhando uma câmera. 

Souvenires são vendidos, no interior da igreja, para turistas interessados. A água-benta brota de uma torneira que só é ligada ocasionalmente. Nas paredes pálidas dessa mesma parte de dentro, quadros em alto relevo retratam a Via Crucis. Marcas de infiltração são visíveis nos cantos do templo, mas à visão colorida das rosáceas, desaparecem como os pequenos arranhões que se acumulam sobre uma obra-prima. Sento-me em um dos bancos, deixando que meu pescoço se incline até que eu enxergue uma espécie de clarabóia no teto. A alvura geral ilumina-se através dos tons de roxo, laranja e vermelho que brotam dos vitrais. A um lado, vejo Maria, seu coração sagrado colocado à sua frente, o resto de sua história relatado em círculo ao seu redor, e um altar em sua homenagem metros abaixo; do outro, o Santo Graal, acima de um altar que, visto de perto, reverencia São José. 

O ambiente inteiro é tão extenso que há duas salas em suas laterais. Observo a capela à esquerda, e leio algumas linhas de um livro que não posso entender completamente, aberto sobre uma pequena plataforma de madeira em frente ao altar. Vejo pessoas desenharem a cruz sobre o peito com o dedo, vejo-as fecharem-se em preces devotadas. Vejo outras como eu, observando as paredes inalcançáveis e disparando seus flashes despreocupadamente; vejo casais abraçando-se e tentando guardar alguma lembrança etérea que os torne ainda mais unidos, sob alguma espécie de comunhão espiritual; vejo vassouras varrendo o pequeno cadáver de um pombo caído. Escuto vozes entoando uma canção sacra, e procuro rapidamente pela sua origem, descobrindo-a nas caixas de som que circundam cada uma das colunas até a extremidade oposta. A modernidade em meio ao religioso me assusta um pouco. Tudo parece mais encaixado, no entanto, quando avisto um piano antigo ao lado do altar principal, e eu, que não sou católica, passo a refletir o quanto essa característica não me torna menos antiquada. 

Encontro-me encantada demais, também, para alguém sem intuitos religiosos, o que apenas comprova a grandiosidade de um lugar como a Catedral, reunindo sob seus arcos elevados e vitrais luminosos a capacidade de despertar a espiritualidade de todos: do pedinte que descansa em um de seus bancos até o turista com a câmera profissional, do observador casual até o fiel ardoroso. Aqui, há espaço e luz para todos. 

Texto por Maria Luiza Artese

Nenhum comentário:

Postar um comentário