sexta-feira, 4 de novembro de 2011


Museu do Ceará: imagens contando mil histórias
Por Iury Costa


            A nossa história passa por aqui. Parece propaganda de colégio famoso, mas é a pura verdade quando se trata de um lugar pouco conhecido, que mostra o passado do nosso querido Ceará do jeitinho como aconteceu: o Museu do Ceará, um enorme estímulo à reflexão histórica acerca da nossa cultura.
            Muito já andou o pobre museu para chegar ao lugar de hoje. Muitos prédios históricos daqui de Fortaleza, alguns que nem existem mais, já tiveram a honra de abrigar nossa história. É claro que isso tem um lado bom, pois um museu itinerante facilita a procura das pessoas que não sabe que o complexo representa.
            Em 1933, ano de criação, ele ficava na Rua 24 de maio. Já em 1934, ele foi para a Av. Alberto Nepomuceno, em frente à Praça da Sé, e ficou lá até 1955. Saiu de lá e foi para a Av. Visconde do Cauype, ficando até 1967. Depois foi para a Rua Barão do Rio Branco e ficou por lá até 1971. Depois foi para a Av. Barão de Studart até 1990, e por fim (ufa!), na Rua São Paulo, onde se mantém até hoje.
Fachada do Museu do Ceará
            O prédio que abriga o museu, sendo ele próprio uma peça museológica, tem uma beleza ímpar. Datado do Séc. XIX, o Palacete Senador Alencar, que é o nome da construção, tem estilo neoclássico, com enormes colunas, janelas e o topo da fachada triangular. E além de sua beleza arquitetônica, tem a histórica: o prédio foi a sede da Assembléia Provincial do Ceará, na época do Brasil Império.
            A visitação é gratuita e o seu capital cultural, de quebra, fica riquíssimo. Além das salas com exposições permanentes, tendo artefatos desde o tempo dos índios, passando pelo tempo em que fomos Colônia e Império, o museu conta também com salas para exposições temporárias. As últimas que estavam acontecendo, pelo menos até a postagem desse texto, eram sobre a Maçonaria no Ceará e a vida de Frei Tito.
            O que me deixa triste é o desinteresse de uns e desconhecimento de outros acerca dos nossos equipamentos culturais aqui em Fortaleza. Aproveite-os, ame-os, pois fazem parte da nossa cultura. Reserve um fim de semana para visitá-los. Aproveite que perto do museu tem O Palácio da Luz, a Praça (dos Leões) General Tibúrcio e a Igreja do Rosário, a mais antiga do Estado, de 1730, e visite-os também.
            A Secretaria de Cultura do Estado também disponibiliza no Museu seminários e cursos periódicos, salas para realização de eventos e uma biblioteca. O Museu do Ceará funciona na Rua São Paulo, 51 – Centro de Fortaleza, de terça a Sábado, das 9 às 17 horas.

Primeira planta de Fortaleza

domingo, 3 de julho de 2011

Nas areias de Iracema...

Por Soriel Leiros

         Confesso que sou iniciante e, por conta disso, minhas palavras denotam certa inexperiência diante dos fatos.
            Contar histórias, ou melhor, escrevê-las, não é uma das tarefas mais fáceis, aliás, poderia afirmar que são tarefas quase impossíveis. Não é coisa simples prender a atenção de alguém quando se vive num mundo onde os valores estão esquecidos e o ritmo de vida está cada vez mais frenético.
            Sigo com o meu bloco e nenhuma ideia me aparece. Fico nervoso, tenso. Tenho pena de minhas unhas! Começo a suar, passar as mãos nos meus cabelos... Rabisco aqui, ali, acolá e nada. Fico preocupado por não atender às expectativas daqueles que sempre esperam o melhor de mim. Parece loucura, não é mesmo? Por que tanta pressão e exigência de si próprio? Nem eu mesmo sei responder. No entanto, gosto de desafios e tudo que os cerca. Busco, então, estar perto das pessoas, da natureza, do mundo real.  Quem sabe não me vem uma inspiração?
            Saio de casa, e já, no meio do caminho, as ideias começam a aparecer. A cidade que me cerca começa a me dar as respostas que eu tanto busco. Começo meu caminho entre as areias de Iracema, espaço de tanta cultura e, certamente, de muitas histórias. Sinto que aqui encontrarei uma ajudinha para minha crônica.
            Sento-me diante do mar, num fim de tarde em que os últimos raios de sol me anunciam que a noite será maravilhosa. Que beleza! Famílias e mais famílias desfrutando de seus momentos de lazer, crianças brincando de uma forma totalmente descontraída e casais apaixonados que, através de um longo abraço ou de um beijo ardente, demonstram felicidade.
            Às vezes, me bate uma saudade de amores antigos e me lembro de um trecho da canção do Caetano: “(...) andar de mão dadas na beira da praia, por esse momento eu sempre esperei”. Como eu não pensei nisso antes! Estava tão perto e tão distante, ao mesmo tempo, de descobrir que passos seguir para a construção do meu texto! Como esquecer a cidade de Fortaleza, que é forte até no nome, sobretudo, este espaço tão rico, forte, envolvente, que a praia nos traduz em sensações especiais.
            Ao fundo, o som gostoso de um bom forró que se mistura com o sorriso do menino e da menina, aquele sorriso moleque tão característico da minha gente.
            A noite chega e, com ela, vem ainda mais uma sensação de bem-estar. Gente de todo lugar, que numa única só cor, pedala, corre, patina, come, se conhece, ou, até mesmo como eu, escreve e se sente num pedacinho de sua casa.
            Olho para a estátua da Virgem dos Lábios de Mel e, numa conversa totalmente informal e inconsciente, me revela segredos que guardarei comigo.
            O fascínio provocado pelo vai e vem destas ondas me faz voltar para casa com a sensação de dever cumprido, num dia que ficará para sempre marcado na minha memória.
            Tenho certeza de que a contemplação do belo não está morrendo e de que minha crônica está perfeita. Ops! Perfeita não! Está pronta para marcar o coração daqueles que se identificam com os momentos mais simples da vida.

domingo, 5 de junho de 2011


Theatro José de Alencar: O Brotinho Centenário!
por Iury Costa  

Muitas pessoas que andam pelo centro da cidade de Fortaleza e passam por um prédio antigo que fica de frente para a Praça José de Alencar não sabem que ali fica o teatro mais antigo do Ceará, que leva o mesmo nome da praça, também em homenagem a esse incrível escritor, nosso conterrâneo, que mesmo tento uma vida breve, apenas 48 anos, deixou inúmeras obras que até hoje encantam muitos leitores.

Fachada do Theatro José de Alencar
            Tem gente que vê a fachada do nosso “Theatro José de Alencar”, que é escrito assim mesmo, desde o tempo em que o nosso país se chamava “Estados Unidos do Brasil”, e pensa que ele é tudo, menos um teatro. Funcionários do teatro dizem que o prédio já foi confundido com escola e até igreja, com gente sendo flagrada fazendo sinal da cruz e de joelhos na escada.

            O terreno do teatro, além de abrigar o teatro propriamente dito, que encanta com sua estrutura toda em ferro e fachada em vidro em estilo art nouveau (estilo arquitetônico das primeiras décadas do século XX que valoriza a exploração de novos materiais, em especial o ferro e o vidro) com capacidade para 800 pessoas, abriga também um foyer, que é uma sala para espetáculos menores e o Centro de Artes Cênicas (CENA), que além de formar novos atores para a vida teatral, ensina muitas pessoas a terem uma nova experiência com um dos principais símbolos das Belas Artes.

Segundo bloco do TJA com a principal sala de espetáculos
            O complexo abriga também várias salas de estudo, uma biblioteca, uma galeria de arte, outro teatro menor, o Morro do Ouro, uma sala que é usada pela Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho e os jardins projetados pelo arquiteto-paisagista Burle Marx, um dos melhores do mundo. Ao sentar na praça e apreciar os jardins, você esquece, nem que seja por um momento, de todos os problemas da vida, das desigualdades que enfrentamos. Saindo de lá, sentimos as forças renovadas para enfrentar a vida com mais otimismo.    

            O que dá tristeza é ver que os turistas valorizam muito mais nossa cultura, nossos monumentos, nossas praças que nós mesmos. Das pessoas que moram aqui, são poucas as que conhecem o teatro por dentro, pois podem até saber o nome, mas nunca entraram para assistir a nenhum espetáculo. Mas não é falta de espetáculo, pois todo dia do mês é oferecido algum programa para se fazer lá. E nem por ser caro, pois muitos desses programas são gratuitos. Das visitas guiadas que a direção do prédio oferece, mais de 90% das pessoas que participam são turistas.

            O que falta então? Somente a nossa iniciativa, por que o “Theatro José de Alencar” tem tudo a oferecer.    
Palco do TJA com detalhes pintados a ouro

Visita Guiada ao Theatro
O percurso tem início a cada uma hora
Terça à sexta: 8h, 9h, 10h e 11h + 13h, 14h, 15h e 16h
Sábados, domingos e feriados: 13h, 14h, 15h e 16h
Inclui a edificação de 1910, os jardins de Burle Marx e o Centro de Artes Cênicas do Ceará – Cena, anexo ao prédio histórico.
R$ 2,00 (estudante) e R$ 4,00
Outras informações: Secretaria da Cultura do Estado

Escola de Arte e de Ofício Thomaz Pompeu Sobrinho



          No início do século XX, a cidade de Fortaleza respirava a belle époque. Em crescente expansão e com uma população em torno de 80.000 habitantes, bondes elétricos encarregavam-se do transporte e suas ruas eram iluminadas por gás carbônico. O processo de industrialização ganhava espaço no ambiente urbano da capital cearense.  Nomes importantes para a construção histórica da cidade, como Filomeno Gomes e Acrísio Moreira da Rocha, optaram por morar em chácaras e palacetes, que foram construídos na parte oeste da cidade, conta a moradora Maria Alderi, que já reside no bairro há 75 anos. Surgia, assim, o bairro Fernandes Vieira.
         Em meio a essa sociedade que emergia, destacamos o intelectual Thomaz Pompeu Sobrinho. Antropólogo, historiador e escritor, além de engenheiro, exerceu um grande papel nos estudos sociológicos cearenses, além de ter sido o primeiro presidente da Academia Cearense de Letras.
        Ele é responsável por uma das construções arquitetônicas mais belas da época. Nascida em 1929, com traços de influência art-nouevau  italiana, o que caracteriza bem a aristocracia fortalezense, a casa de Thomaz Pompeu ainda hoje chama a atenção de moradores do bairro e de visitantes. Suas estruturas internas conservam o teto de ferro, típico das ferrovias, que, à época, davam suporte ao trem e ao bonde, meios de transporte bastante utilizados. Funcionou como residência para ele e sua família até 1967, ano em que se deu seu falecimento.
         O casarão fica localizado na av. Francisco Sá, 1808, no bairro Jacarecanga. Aquisição do Governo do Ceará é, hoje, Patrimônio Histórico do Estado. No local, atualmente, funciona a Escola de Artes e Ofício Thomaz Pompeu Sobrinho. Protegido pela lei 9109-68, o prédio conserva sua estrutura original, mantendo compartimentos como porão e ambientes ao ar livre, jardim com plantas e árvores originais.
         Equipamento da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult) e gerido pelo Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), tem como proposta a interação com a comunidade através da arte. Por esse motivo, suas atividades são voltadas para a educação e cultura.
        A Escola promove oficinas de grafite, xilogravura e confecção de brinquedos, dentre outras. Para participar, é necessário passar por um processo seletivo, que tem como um dos requisitos que o interessado esteja cursando o ensino médio, ou ainda, que já o tenha terminado. É importante salientar que é oferecido, para os matriculados que têm idade entre 18 e 24 anos, um benefício financeiro. A instituição tem programas de parcerias com outras instituições governamentais, como o Dragão do Mar, possibilitando a extensão da capacitação.
        Merece destaque o curso de restauração. Ele oferece suporte de aprendizagem para serviços de reformas internas de estruturas físicas de edificações. Os alunos são, muitas vezes, os próprios promotores de restaurações quando necessário. No entanto, no prédio, todas as reformas são feitas com o intuito de preservar as suas características primitivas.
        Maicon Rodrigues, responsável pela visitação do local, nos conta que há outros serviços os quais a população, em geral, pode utilizar. Um deles é a Ilha Digital. Nesse lugar, o usuário faz a utilização de serviços tecnológicos, dentre eles o acesso à internet. É necessário apenas que seja feito um agendamento. É também colocada à disposição das pessoas em geral a biblioteca, que tem como lema “Arte, Cultura e Patrimônio”. Marta Ângela, bibliotecária responsável, conta que cerca de quinze crianças freqüentam o lugar diariamente. Além de terem a oportunidade de realizar as atividades escolares, elas fazem trabalhos de pinturas e leituras de livros paradidáticos. O acervo bibliotecário contabiliza em torno de 1.500 itens, dentre eles, exemplares da Revista do Instituto Ceará, que foram escritas pelo brilhante Thomaz Pompeu Sobrinho.
         Atualmente, a Escola está promovendo uma exposição de xilogravuras feitas pelos ex-alunos. Diversas são as abordagens entre as obras. Entre elas, é possível destacar a reprodução da realidade vivida pela população carente.
        São diversos os cursos oferecidos pela Escola de Arte e de Ofício Thomaz Pompeu Sobrinho, assim como também eventos promovidos pela Secretaria de Cultura do Estado através da Instituição. É possível acessar a programação pelo site http://www.eao.org.br/index.php/institucional/, como também pelo livreto distribuído no local, no Dragão do Mar e em vários pontos da cidade que dispõe do material.
       O fortalecimento da cultura e da arte é, inegavelmente, um fator positivo para a mudança de uma realidade estereotipada da juventude brasileira. Agregado à educação, ele é capaz de mudar destinos que, até então, pareciam consolidados, transformando a realidade do jovem e, consequentemente, repercutindo nos laços sociais. Isso contribui para que a geração do amanhã possa produzir conhecimento. Essa “arma” possibilita a mudança de muitas realidades postas e enraizadas.

Por Kelly Hekally

Praça do Carmo

                                                 foto: Paulo Robert


            Quando cheguei, já era noite - mais cedo do que estava acostumado a passar quando voltava da faculdade. Por causa do dia, naquela hora a praça estava razoavelmente cheia de pessoas chegando à missa. Era domingo, quase dezenove horas; se fosse outro dia (tirando o sábado que também tem missa), a praça já estaria quase vazia.

            Sentado no banco da praça - cujas obras  iniciaram-se  em 1850, ainda com o nome de Praça do Livramento, e só em 1922 foi denominada de Praça Nossa Senhora do Carmo - eu prestava atenção no burburinho das pessoas entrando na igreja e no cheiro das pipocas sendo feitas pelos pipoqueiros, que tradicionalmente as vendem fora das igrejas nos dias de missa. Isso acabou servindo de inspiração para este texto.

            No entanto, infelizmente, alguns problemas chamavam mais  minha atenção, como a iluminação, que não é das melhores, deixando a praça meio  escura, dando a sensação de insegurança; algumas rachaduras no chão e bancos quebrados mancham a imagem de uma praça que faz parte da história de Fortaleza e que deveria ser tombada como patrimônio histórico do Ceará.

            Além da igreja, ao redor da praça, há outros prédios históricos como o Instituto do Ceará e a Associação dos Merceeiros, que ainda estão em funcionamento.

            De manhã, a praça é mais frequentada, seja por pessoas que estão indo trabalhar, fazendo compras no Centro, ou alunos voltando para casa depois de mais um dia de estudos. Quem passa por lá, não percebe o valor histórico da praça que existe há mais de um século e que também tem muito valor cultural nas pinturas e estátuas que estão dentro e fora da igreja de Nossa Senhora do Carmo.  


                                               foto: Paulo Robert

Por Paulo Robert
Iracema: “a virgem dos lábios de mel”
foto: José Gabriel
           Iracema, índia guerreira, protetora do “segredo da jurema” bebida que proporcionava aos guerreiros da tribo tabajara o poder de realizar todos os seus desejos em sonhos. Como guardiã desse segredo, a índia tinha sua virgindade destinada à felicidade de seu povo. Sentada à beira da lagoa de Messejana, está à estátua de Iracema. Um monumento belo feito de aço, tem 12 metros de altura e pesa cerca de 16 toneladas.
            Uma obra escrita pelo saudoso romancista cearense José de Alencar, Iracema encanta a todos com sua garra e com sua beleza, assim como fez com o português Martim Soares Moreno que se encantou de imediato com a doçura de sua boca. Quem passa pela avenida da lagoa em Messejana, fica encantado com um dos maiores e mais belos monumentos culturais da cidade de Fortaleza. Inaugurado em 01 de maio de 2004, a estátua de Iracema concretiza a importância dessa obra para a história do Estado do Ceará e para a literatura nacional.
            Não haveria lugar melhor para Iracema repousar do que na lagoa de Messejana onde segundo a obra de Alencar, Iracema tinha o costume de banhar-se. Sentada em uma pedra na beira da lagoa, a índia se refresca com a água que jorra de uma cuia. Seu corpo quase nu, tendo apenas seus preceitos femininos cobertas por uma saia feita com penas, seu busto é escondido por seus belos cabelos. Apesar de meiga, Iracema transparece um ar de guerreira, tendo em uma de suas mãos a mais importante arma carregada pelos índios: a flecha.
foto: José Gabriel
            O pôr-do-sol na orla da lagoa é um convite para apreciar a beleza da natureza, onde o crepúsculo das nuvens mistura-se com a imagem da índia, e tudo parece fazer parte de uma mesma melodia. O canto dos pássaros mistura-se com o irritante som das buzinas dos carros que ali por perto passam. A calmaria da águas da lagoa mistura-se com o ritmo de caos que é o trânsito de Fortaleza. Milhares de carros passam todos os dias pela estátua de Iracema, acredito que poucos sequer olham para o lado, muitos olhares passam despercebidos diante de tanta beleza.
foto: José Gabriel
            O final de tarde convida a um passeio pela orla da lagoa. São poucos os que ainda se arriscam a caminhar por aquele local ou que param para simplesmente ficar admirando a paisagem. A todo instante alguém passa em frente à estátua de Iracema. No entanto, ninguém se arrisca em parar para admirá-la, o medo da violência afasta as pessoas. A prova dessa violência desenfreada pode ser vista na própria estátua. A flecha que passava segurança de uma índia guerreira há muito tempo foi roubada. A cuia de onde jorrava a água com que Iracema se banhava há tempos está vazia. O corpo da Índia encontra-se pichado. É triste ver uma imagem tão bonita ser destruída aos poucos pelas mãos daqueles que deveriam se orgulhar daquele monumento. São poucos os que sabem a importância dessa estátua para cultura cearense.   
            Os pescadores da lagoa de Messejana admiram a imagem de Iracema enquanto tira daquele recinto habitado por uma índia o seu sustento. A estátua de Iracema promove aos olhos de todos os cearenses e principalmente aos nascidos na terra de Alencar a dádiva que é a beleza daquela mulher. Morena como a noite, com seus cabelos longos e negros, um olhar seguro, e como diria seu criador: “com os lábios de mel“.
 Por: José Gabriel              

Catedral: um templo gótico em meio à Terra da Luz


As paredes desgastadas pela chuva de muitos anos engana; nada há de sombrio no interior da Catedral Metropolitana de Fortaleza, erigida sobre o que foi, outrora, a Igreja da Sé. Em estilo gótico, de dimensões extensas e rosáceas primorosas, o templo católico, localizado próximo ao Centro Cultural Dragão do Mar e o Mercado Central, é mais novo do que sua aparência demonstra, tendo sido terminado em 1978 após uma obra de 40 anos. Com destaque para São José, a igreja é a terceira maior do país, tendo sido projetada pelo francês George Maunier. 

Talvez a beleza mais pura da Catedral, ao menos para os olhos da presente observadora, esteja no seu exterior, na decadência sombria de suas marcas, manchas e rachaduras discretas. Tem-se o tipo de emoção quase que cinematográfica ao cruzar os grandiosos portais acinzentados em arco, ao caminhar pelos degraus degradados e ao sentir-se vivente de um passado que, na verdade, não é tão antigo assim. Pombos aglomeram-se nas pequenas reentrâncias dos vitrais menores, como que escondendo-se do sol exaustivo da cidade, camuflando-se nas sombras. Alguns metros ao lado, uma placa anuncia estacionamento pago dentro dos limites sagrados. Poucos carros se encaixam em vagas estreitas, dos quais a maioria dos passageiros sai empunhando uma câmera. 

Souvenires são vendidos, no interior da igreja, para turistas interessados. A água-benta brota de uma torneira que só é ligada ocasionalmente. Nas paredes pálidas dessa mesma parte de dentro, quadros em alto relevo retratam a Via Crucis. Marcas de infiltração são visíveis nos cantos do templo, mas à visão colorida das rosáceas, desaparecem como os pequenos arranhões que se acumulam sobre uma obra-prima. Sento-me em um dos bancos, deixando que meu pescoço se incline até que eu enxergue uma espécie de clarabóia no teto. A alvura geral ilumina-se através dos tons de roxo, laranja e vermelho que brotam dos vitrais. A um lado, vejo Maria, seu coração sagrado colocado à sua frente, o resto de sua história relatado em círculo ao seu redor, e um altar em sua homenagem metros abaixo; do outro, o Santo Graal, acima de um altar que, visto de perto, reverencia São José. 

O ambiente inteiro é tão extenso que há duas salas em suas laterais. Observo a capela à esquerda, e leio algumas linhas de um livro que não posso entender completamente, aberto sobre uma pequena plataforma de madeira em frente ao altar. Vejo pessoas desenharem a cruz sobre o peito com o dedo, vejo-as fecharem-se em preces devotadas. Vejo outras como eu, observando as paredes inalcançáveis e disparando seus flashes despreocupadamente; vejo casais abraçando-se e tentando guardar alguma lembrança etérea que os torne ainda mais unidos, sob alguma espécie de comunhão espiritual; vejo vassouras varrendo o pequeno cadáver de um pombo caído. Escuto vozes entoando uma canção sacra, e procuro rapidamente pela sua origem, descobrindo-a nas caixas de som que circundam cada uma das colunas até a extremidade oposta. A modernidade em meio ao religioso me assusta um pouco. Tudo parece mais encaixado, no entanto, quando avisto um piano antigo ao lado do altar principal, e eu, que não sou católica, passo a refletir o quanto essa característica não me torna menos antiquada. 

Encontro-me encantada demais, também, para alguém sem intuitos religiosos, o que apenas comprova a grandiosidade de um lugar como a Catedral, reunindo sob seus arcos elevados e vitrais luminosos a capacidade de despertar a espiritualidade de todos: do pedinte que descansa em um de seus bancos até o turista com a câmera profissional, do observador casual até o fiel ardoroso. Aqui, há espaço e luz para todos. 

Texto por Maria Luiza Artese

Praça do Ferreira: A praça das expressões cearenses!


Foto: Raoni Souza
Sinônimo de encontro dos fortalezenses.  Em meio a tanta confusão do principal centro comercial do Ceará, a Praça do Ferreira situa-se entre as ruas Floriano Peixoto e Major Facundo e as travessas Pará e Pedro Borges, neste local podemos encontrar pessoas sentadas nos bancos da praça, tentando refugiar-se do sol escaldante que assola nossa terrinha ou apenas de passagem. 
Criada em 1726, seu nome é uma referência ao presidente da Câmara Municipal da época, o boticário Ferreira. Mas nem sempre foi conhecida com o nome atual, já foi conhecida Praça Feira-Nova, Pedro II, e da Municipalidade.

Desde sempre, palco de encontros culturais, de prestação de serviços públicos, protestos e palco para os cearenses vaiarem o sol, sim! Aqui, até o sol já recebeu vaias. Tal fato ocorreu em 1942. Popularmente conhecida como o “Coração de Fortaleza”, outrora sinônimo de calma, repouso, logo nada se parece com a praça de hoje, que ferve no ritmo acelerado dos transeuntes e dos artistas populares. 
Não menos importante, temos no ponto central acima da cacimba soterrada, a coluna da hora, que passou por vários formatos até chegar ao que conhecemos hoje, servindo de ponto de referência, bem como o relógio.

Pergunte a qualquer cidadão, o que ele se lembra quando indagado sobre a praça,certamente terá uma vasta gama de respostas. Coração de Fortaleza, praça dos idosos, local para festa e ponto de encontro de casais. Imagine quantas mocinhas saíram do caritó, nesses bancos que margeiam o perímetro da praça? 
Foto: Raoni Souza
Sob uma ótica Machadiana a praça seria descrita como: um quadrilátero com duas fileiras paralelas de poste, em uma de suas extremidades menores encontra-se quatro formas pontiagudas tendo o ferro em sua composição. Em seu centro geométrico, está disposta uma fonte onde antes se encontrava uma cacimba, sobre suas águas uma torre metálica com um relógio de quatro faces. 
É interessante ver que, em pleno século XX, ainda existam pessoas que depositam suas moedas em meio a sujeiras do fundo da cacimba, como uma
fonte dos desejos. Pagam a realização de um desejo ou pedido com uma moeda. Não seria exagero afirmar que a Praça do Ferreira é um grande palco, seja para artistas profissionais ou para aqueles indivíduos que chamam atenção por suas vestimentas ou por suas atitudes.

Para esse grande palco, existe uma gama muito grande de público, assim como a praça passou por várias reformas, os freqüentadores também mudam. Dos jovens intelectuais da Padaria Espiritual aos senhores e senhoras. Atualmente, está complicado descansar na praça, em meio a tantos funcionários de empresas oferecendo todo tipo de cartão de crédito, com uma multiplicidade de formas de pagamento. 


Foto: Raoni Souza
Em relação às manifestações culturais que ocorrem na praça, cito aqui de banda de forró às tradicionais bandinhas de marchinha de carnaval. Dentre todas as praças de Fortaleza, considero a Praça do Ferreira a mais imponente, pela sua importância histórica, por sua arquitetura e pelos valores agregados pelos fortalezenses.

Por: Raoni Souza

sábado, 4 de junho de 2011

Praça dos Mártires: sempre aberta ao "Passeio Público".


foto Soriel Leiros
                    Mágica, envolvente, tranquila e um dos símbolos máximos da cultura local, a Praça dos Mártires, popularmente conhecida como Passeio Público, é uma das praças mais antigas e com uma das melhores vistas da nossa cidade.

            Espaço de contemplação e de muita história, o Passeio Público, localizado na rua Dr. João Moreira s/n, no Centro, foi planejado em 1820 por Silva Paulet. O nome “Praça dos Mártires” foi dado em homenagem aos heróis que pertenceram à Confederação do Equador, como Azevedo Bolão, Feliciano Carapinima, Francisco Ibiapina, Padre Mororó e Pessoa Anta, que, ao serem derrotados pelo Império, foram executados ali mesmo.

            Só em 1890, a construção da praça saiu do papel e, em 1940, foi reformada lembrando os mesmos moldes do Passeio Público da cidade do Rio de Janeiro, com as características que encontramos até hoje.

            Em estilo neoclássico, rodeada por gradis, luminárias muito bonitas e composta por inúmeros bancos e monumentos, como fontes, estátuas e um lindo coreto, é considerada por muitos um templo de repouso na hora do almoço ou um encanto para os turistas que aqui chegam e se deparam com um local deslumbrante.

            Repleto de árvores centenárias – como o famoso Baobá, plantado em 1910 por Senador Pompeu – que são imunes ao corte, o Passeio Público provoca um fascínio indescritível, deixando o visitante ainda mais maravilhado e em pleno contato com a natureza.

            Para todos os lados que você olhe, há uma informação a ser passada, através do detalhe de algum monumento ou até mesmo da bela exibição da extensão das águas do Atlântico. Todos, que ali chegam e param por alguns instantes, saem convictos da maravilha que só os espaços mágicos nos reservam. Só visitando um espaço como este, você tem a certeza de que a contemplação do belo não está morrendo...

            Para quem não sabe, o logradouro do Passeio Público foi palco das primeiras partidas de futebol do Estado do Ceará. Isso mesmo! Estas partidas eram disputadas pelos marinheiros que chegavam nos navios que ancoravam no porto da cidade, por ingleses que já moravam aqui e também por pessoas da alta sociedade local.

           Muitos professores utilizam-se do espaço para organizarem aulas de campo, para falar muitas vezes sobre a Belle Époque – a praça é uma das valiosas construções realizadas neste período –, mostrando aos seus alunos a genialidade e a história. Meus amigos, estou certo de que a história deste espaço é muito viva, próxima de qualquer um que fique um pouquinho observando todos os seus detalhes, de um dos lugares mais antigos da nossa cidade.

            O Passeio Público foi tombado em 1965 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e, recentemente, passou por uma restauração, que recuperou bancos, gradis, fontes, estátuas e jardins, além de um novo projeto de iluminação, beneficiando os amantes do local.

            Visando à revitalização do espaço, que por anos ganhou a fama de ser um reduto somente de prostitutas e mendigos, a Prefeitura de Fortaleza, através da Secretaria Municipal de Cultura, vem realizando ações sociais, como apresentações teatrais e musicais, contações de histórias, lançamentos de livros e até piqueniques nos fins de semana.        
    
             Desta forma, saborosos encontros acontecem, regados à brisa e ao canto dos pássaros que mostram sua graça ao pousarem em todos os cantinhos, embalando os casais apaixonados e integrando ainda mais as famílias que ali se encontram.

            Este processo de revitalização foi fundamental para renascer nos corações de todos nós o sentimento de resgate da nossa memória, enaltecendo um dos maiores palcos de luta e resistência política que Fortaleza já presenciou e servindo como uma forma de chamar a atenção das autoridades para a recuperação de outros espaços de lazer da cidade.

           O mais importante a se destacar é que este local, independentemente de como o vejam – se como a Praça dos Mártires, o lugar de encontro de prostitutas, ou, simplesmente, Passeio Público –, representa uma das maiores referências da história de nossa cidade e que merece o devido respeito e atenção por parte dos nossos governantes e, sobretudo, de todos os fortalezenses, com o intuito de fortalecer ainda mais nossa identidade cultural.

foto: Soriel Leiros
Seguem dois vídeos para você perceber o encanto deste importante espaço de nossa cidade: (fonte: youtube)



Por Soriel Leiros